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Outubro Rosa: Vamos falar sobre a saúde da mulher?

O mês de outubro é lembrado, especialmente pelo público feminino, por se tratar do Mês de Conscientização Sobre o Câncer de Mama. A cor rosa é predominante neste período justamente para alertar as mulheres da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer.

Para reforçarmos a importância dessa data, conversamos com profissionais da saúde sobre o tema que aborda pontos importantes como o autocuidado, consultas periódicas, diagnósticos, tratamentos para a doença, alimentação saudável e até mesmo acompanhamento psicológico.

Câncer: sintomas, diagnósticos e tratamentos

A palavra câncer geralmente assusta as pessoas, mas é importante falar sobre o assunto até para detectar a doença o mais cedo possível. Karina Ferreira Ribeiro Homobono é médica, cirurgiã geral e oncológica e descreve quais os sintomas do câncer de mama e se é possível identificar alterações iniciais no organismo.

“O câncer inicial normalmente não apresenta sintomas. De forma geral, quando se manifesta, já estamos falando de doença mais adiantada. Por isso é tão importante a avaliação periódica, na busca daquilo que ainda não está perceptível e que tem mais chances de cura. Mas pode se manifestar na forma de nódulo palpável e até mesmo visível; alterações da pele da mama e/ou mamilo; retrações; mudança no tamanho da mama; aspecto grosseiro (que chamamos de ‘casca de laranja’); saída de sangue ou líquidos pelo mamilo; dor (casos mais avançados); caroço na axila do lado da mama doente; etc.”.

Nos exames periódicos da mulher estão incluídos o ultrassom de mamas e axilas, e a mamografia.

Segundo Dra. Karina, o ultrassom pode ser feito em qualquer idade, a partir do início da vida sexualmente ativa, da mesma forma que o preventivo de colo de útero. Já a mamografia fica destinada às mulheres acima de 40 anos (ou antes, nos casos de alto risco genético, quando há parentes diretos com história de câncer de mama).

Neuza Maria Campelo Bornholdt, ginecologista e obstetra, acrescenta algumas informações em relação aos exames preventivos. De acordo com a médica, realizar os exames preventivos favorece a descoberta precoce dos tumores, aumentando em até 95% a chance de cura. Os exames preventivos são: o exame clínico realizado por ginecologista, a mamografia e o autoexame realizado pela própria mulher.

“A mulher precisa conhecer o seu corpo para estar atenta aos sinais que podem indicar doenças. Para o diagnóstico precoce é importante o autoexame das mamas, que pode ser melhor realizado no período pós-menstrual. A consulta periódica com ginecologista, que deve ser anual, ou sempre que for necessária. Este profissional então indicará os exames necessários para cada caso”.

Diagnóstico: o que fazer

Ao receber o diagnóstico de câncer, o que se deve fazer? O primeiro sentimento que vem à tona, normalmente, é o medo, mas é importante que a mulher mantenha a calma, mesmo sendo difícil.

De acordo com Dra. Karina, manter a calma ajuda a compreender e a digerir o diagnóstico para, então, procurar atendimento especializado.

“É importante procurar médicos especializados, como mastologista ou cirurgião oncológico que atue na área, que são os profissionais capacitados para avaliar, estadiar a doença e verificar qual a melhor alternativa de abordagem para o tratamento; além de equipe multidisciplinar, com apoio psicológico, nutricional e outros que no percurso podem ser necessários, como fisioterapia, enfermagem, além de outras especialidades médicas, tais como oncologia clínica e radioterapia”.

Após diagnosticar o câncer de mama e recorrer aos profissionais, inicia-se a parte do tratamento. Como funciona? Dra. Karina explica.

“Hoje em dia o tratamento tem sido cada vez mais individualizado. A depender do estadiamento, de fatores da própria paciente e algumas características do próprio tumor, é se que escolhe a melhor rota para esse tratamento, que pode envolver cirurgias (desde a retirada de parte da mama, até a mastectomia radical, com cirurgia também na axila para retirada dos gânglios que a doença pode afetar), radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e hormonioterapia. Em etapas posteriores, também se inclui a reconstrução com mamoplastia, próteses, conforme a necessidade de cada paciente”.

Fatores relacionados ao câncer de mama

Nenhum fator de risco ou hábito de vida vai, isoladamente, resultar em câncer.  Além disso, a genética tem um papel muito importante nesse mix. Entretanto, confira os principais hábitos e situações que podem contribuir para a doença:

–    Obesidade e sobrepeso;

–    Pouca atividade física;

–    Consumo excessivo de bebidas alcoólicas;

–    Alimentação rica em gorduras e pobre em fibras, vitaminas e sais minerais;

–    Exposição frequente às radiações;

–    Tratamento prévio com radioterapia em região do tórax;

–    Primeira menstruação muito precoce;

–    Menopausa após os 55 anos de idade;

–    Ganho excessivo de peso após a menopausa;

–    Histórico familiar de câncer de mama antes dos 50 anos de idade;

–    Alterações genéticas (genes BRCA 1 e BRCA 2);

–    Primeira gestação tardia.

Conscientização das mulheres: um mês que não pode ser ignorado

O Outubro Rosa é o mês em específico para reforçar a necessidade de todas as mulheres se cuidarem e estarem atentas à saúde. Conforme Dra. Karina, quanto mais cedo detectar a doença, as chances de alcançar a cura são grandes.

“A detecção precoce aumenta muito a chance de alcançar a cura, além de também permitir que sejam possíveis tratamentos menos agressivos, menos mutilantes e bem mais tranquilos. Vivemos num mundo no qual cada vez mais temos que ser ‘super-mulheres’, multitarefas e acabamos por esquecer de nos olhar, de nos cuidar e até mesmo de nos amar. O Outubro Rosa vem nos lembrar que precisamos desse tempo para nós, para ter esse olhar mais carinhoso com nosso próprio corpo e nossa saúde”.

Dra. Neuza acrescenta sobre a importância de realizar a mamografia por ser considerado um exame padrão ouro para a detecção do câncer de mama.

“O câncer de mama é o câncer mais comum entre as mulheres, no mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos. É o câncer que causa mais mortes no Brasil. As maiores taxas de incidência e de mortalidade, no Brasil, estão nas regiões Sul e Sudeste. Lembrando que o câncer de mama também pode acometer homens, por isso é importante afastar os fatores de risco e consultar periodicamente a (o) ginecologista, que é o profissional habilitado para investigar e diagnosticar esses casos. Os profissionais de saúde precisam estar atentos ao lado emocional dos pacientes, não só acometidos por câncer de mama, mas também por outras doenças graves, estendendo essa atenção também aos familiares desses pacientes, para minimizar o sofrimento de todos”.

Psicológico: como lidar com as emoções e dar a volta por cima

O impacto psicológico causado pelo câncer de mama traz uma significativa repercussão na vida dos pacientes. Quando essa fase é vivida com conhecimento, compreensão e apoio especializado, é possível ter um entendimento melhor dos medos e angústias que podem interferir em uma resposta no tratamento.

Rosa Isabel de Araujo Bordignon, psicóloga hospitalar, clínica e RH, salienta a importância do profissional psicólogo em acompanhar pacientes nesse processo de ressignificação. 

“Cada pessoa é única, possui características singulares, principalmente no que diz respeito aos aspectos psicológicos e comportamentais, portanto cada pessoa vai reagir de uma forma, de acordo com sua capacidade de resiliência e enfrentamento de situações de crise e eventos estressores. Pessoas psicologicamente mais fragilizadas tendem a ter mais dificuldades em elaborar o diagnóstico e o tratamento da patologia, enquanto que pessoas emocionalmente estáveis e com maior capacidade de resiliência podem lidar de forma um mais branda e com menos impacto emocional elaborando melhor esta situação. Claro, não significa que ser resiliente é sinônimo de ausência de sofrimento psíquico, muito pelo contrário, mas sim que esta pessoa tende a conseguir desenvolver de forma mais objetiva e otimista mecanismos de enfrentamento durante esse processo de tratamento”. 

Os familiares e toda a rede de suporte social possuem papéis importantes nesse processo, então de que forma eles podem ajudar? A psicóloga Rosa explica que o tratamento de câncer é um processo que gera um desgaste físico e psíquico muito grande para o paciente, pois os medicamentos utilizados em quimioterapia, por exemplo, também vão atingir as ‘células boas’ do organismo.

Como consequência, a paciente poderá sofrer fadiga, náuseas, indisposição, dores, inapetência, falta de apetite, insônia, também os sintomas físicos como medo, insegurança, ansiedade, alterações no humor, mudanças na rotina, afastamento das atividades laborais, entre outros, vão se tornar frequentes. 

“É importante que a família entenda essas mudanças e esse novo contexto da paciente, se colocando à disposição para o que precisar. Entende-se que a família também entra nesse processo, sente insegurança, medo, ansiedade, porém deve buscar sempre tentar ser otimista, ouvir o que este familiar está sentindo, até porque ele continua sendo protagonista da sua vida (embora fragilizado). Não fazer comentários que possam preocupar o paciente, como: e se você morrer, quem vai cuidar dos filhos? Você é tão nova, tem toda vida pela frente, e se acontecer algo?”   

RFCC: uma rede de apoio indispensável nesse processo

Além do suporte familiar, Rosa também aponta as redes de apoio, como a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC), essenciais para fazer o acompanhamento de mulheres vítimas do câncer.

“A pessoa vai perceber que não está sozinha, que outras mulheres também estão passando pelo tratamento e podem ter os mesmo sintomas, medos, inseguranças. Dessa forma podem criar vínculos e se fortalecerem durante esse processo, através da experiência do outro pode contribuir para a forma de superar tudo isso. Como já mencionado, muitos pacientes precisam se afastar das atividades laborais e, durante os encontros da RFCC, dos grupos de apoio, podem desenvolver atividades que ajudem a se sentir produtivas, que promovam bem-estar e momentos de socialização”.

Mudança de hábitos

A vida passa a não ser mais a mesma depois do diagnóstico de câncer. A rotina muda, uma nova adaptação precisa ser feita, inclusive na alimentação. 

Talita Fachinello (@talita.fachinello_nutri) é nutricionista e contribuiu nesse especial Outubro Rosa para tratar sobre o papel da alimentação tanto na prevenção do câncer de mama e também no tratamento.

Segundo ela, a má alimentação é fator de risco para todos os tipos de câncer, inclusive de mama.

“O alimento é nosso combustível e se a qualidade dele não for boa, certamente vai prejudicar o funcionamento do corpo todo. Em tratamento de câncer de mama, a alimentação demanda de cuidados de acordo com a fase do tratamento. Pós cirúrgico geralmente precisa de maior aporte de proteínas, tratamentos de quimioterapia e radioterapia podem ter efeitos colaterais de aversão a determinados alimentos, então cada situação deve ser orientada de acordo com a paciente e o quadro que apresenta, porém, sem dúvidas a alimentação contribui para melhora do quadro”.

O consumo de alimentos processados e ultraprocessados, como biscoitos em geral, sorvete, guloseimas, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, linguiça, salsicha, hambúrguer, nuggets, enfim, são prejudiciais ao corpo ao longo do tempo. Por isso, a recomendação da nutricionista é sempre comer alimentos in natura e minimamente processados.

“Frutas, verduras, legumes, cereais integrais, feijões, carnes frescas, resfriadas ou congeladas, ovos, leite e derivados sem adição de açúcar, castanhas, nozes, amendoim e outras oleaginosas sem adição de açúcar ou sal são os alimentos que devem compor a maior parte de alimentação de alguém que busca ter saúde”.

Outro ponto importante é procurar entender os sinais do seu corpo quanto a fome e saciedade para regular a quantidade de alimentos que deve ser ingerida.

“Além da qualidade da alimentação, quantidade, adequação e a forma com que comemos também influencia. Coma alimentos de cores variadas para obter todas as vitaminas e minerais e, se possível, procure orientação especializada para adequar a fase de vida, pois para cada idade as necessidades, especialmente de vitaminas e minerais são diferentes. E algo muito importante: comer com atenção plena, assim seu cérebro poderá realmente perceber que o corpo está sendo alimentado”.

Percepção na alteração do corpo: fator determinante

A fonoaudióloga Ana Paula de Castro Silva (@anapaulafonocco) passou por dois casos de câncer na família: o dela e também o da irmã. 

Ela conta que há cerca de 6 anos sua irmã foi diagnosticada com câncer de mama. Isso gerou um susto pois não havia casos na família. Segundo ela, o tratamento foi bem sucedido, pois o câncer foi diagnosticado em estágio inicial.

“Dois anos depois fui diagnosticada com câncer de tireóide. Como fonoaudióloga tive medo de possíveis consequências da cirurgia, como disfagia (dificuldade para engolir) e disfonia (alteração na voz). Como também estava em estágio inicial, o tratamento foi bem-sucedido e não tive sequelas. A minha dica é para que as mulheres estejam atentas para seu corpo, que não deixem de fazer os exames preventivos, de cuidarem de sua alimentação e de sua saúde mental”.

Nossa gratidão as profissionais da saúde

Queremos agradecer a todas as mulheres profissionais da saúde que tiraram um tempo para contribuir com esse artigo e trazer dicas especializadas para nossas leitoras. 

Obrigada, 

– Karina Ferreira Ribeiro Homobono – Médica, Cirurgiã Geral e Oncológica;

– Neuza Maria Campelo Bornholdt – Ginecologista e Obstetra;

– Rosa Isabel de Araujo Bordignon – Psicóloga Hospitalar, Clínica e RH;

– Talita Fachinello –  Nutricionista;

– Ana Paula de Castro Silva – Fonoaudióloga;

Esperamos termos ajudado com todas essas dicas, informações e relatos de profissionais que, assim como você, também se preocupam e se sensibilizam em ajudar pacientes vítimas do câncer.

Não deixe o medo te impedir de buscar conhecer e cuidar mais do seu corpo e nunca se esqueça que a prevenção é o melhor remédio, por isso, faça os exames regularmente.

Curtiu esse conteúdo e tem uma história sobre o Câncer de Mama para compartilhar? Deixe seu comentário. 

Apoiar umas às outras é a melhor forma de fortalecer nossos laços e superar obstáculos. 

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